Hoje resolvi tirar a bunda do sofá e caminhar no calçadão da praia. Coloquei um short de tenista - aquele com dois bolsos - uma camiseta que ganhei na época da eleição, com propaganda política nas costas, meia soquete e um tênis, já desgastado pelo tempo, inapropriado para o exercício da caminhada. Comecei bem: fui de uma ponta a outra da praia, num pique de fazer inveja aos garotões com mais de 30. A volta já foi como se estivesse olhando vitrine; não consegui cumprir o percurso planejado, parei no meio do caminho, exatamente na direção de um banco. Sentei-me para descansar e fazer hora. Não estava com vontade de ir para casa, naquele momento. Era cedo.
Fiquei sentado naquele banco, inerte, como se fosse a própria escultura de Carlos Drummond de Andrade, olhando as pessoas que circulavam pelo calçadão. Depois de algum tempo, quando já estava de saco cheio de estar ali parado, me veio uma ideia: por que não observar os transeuntes, com seus trejeitos, suas expressões fisionômicas, e até arriscar algum palpite sobre suas personalidades? No mínimo, era uma maneira de continuar sentado, sem me sentir inútil.
A primeira observação que me chamou a atenção foi a de um casal, de meia-idade: o homem ia a uns dez metros de distância, à frente da mulher. Até aí, tudo bem. Os homens, de um modo geral, são mais apressados. Mas o interessante era que: de vez em quando, ele olhava para trás, não para ver onde estava a sua mulher, mas para olhar a mulher que acabava de lhe dar as costas.
Logo atrás, vinha um cidadão, de cabelos grisalhos, num monólogo animado. Entre um e outro personagem, passava aquele indivíduo resmungando, com cara de bravo, que, não era pra menos, estava sendo levado pelo cachorro, pra passear - o cachorro ia na frente arrastando-o, sem dó nem piedade.
Entre tantos caminhantes, haviam aqueles que levavam a caminhada mais a sério: passavam exercitando a marcha atlética..que exercício estranho é aquele, o sujeito rebola tanto que... não sei se ele se recupera disso.
Outra situação que observei, e essa eu tive que dar uma de Mr. Bean: cara de idiota, fingindo que não estava prestando a atenção na conversa das duas mulheres, que caminhavam - caminhavam não, Passeavam! Elas não estavam nem um pouco preocupadas com elas, mas com a amiga... Diziam: - você viu o cabelo da Fernanda, ela fez luzes californianas. Ficou tão amarelo que, a noite, a cabeça dela, parece um abajur.
- É, mas eu acho que ela clareou o cabelo para combinar com o carro que ganhou do marido. O carro é cor de mel.
- A Raquel já tinha me falado que ela mudou de atitude. Anda com o nariz empinado.
- Sabe de uma coisa: a Fernanda não é mais a mesma, está muito esnobe...
Uma constatação que eu não pude deixar de registrar, foi a celularmania. Virou dependência. Em dez passantes, nove tinham um celular pendurado na orelha. Eu já até pensei em sugerir às indústrias de aparelho, de telefonia móvel (...antes, patentear a ideia), que produzam celulares em formato de orelha. Sendo dois modelos básicos: orelha esquerda e orelha direita e um top de linha, que seria um par de orelhas celulares. A vantagem desses modelos é deixar as mãos livres para fazer outras coisas, principalmente, dirigir.
A observação que mais me arrepiou, não diz respeito aos caminhantes, mas com a mesa ao lado: Seis Velhinhos jogando carteado. Eu pensei comigo...Vai que um velhinho desses passa mal, eu... aqui, bem pertinho...
Deus me livre... estou sendo observado...Fuiiii !

Sensacional! Já estou fã de carteirinha!
ResponderExcluirObrigado por comentar.
ResponderExcluirMuito hilário. Adorei!
ResponderExcluir